O mercado de fertilizantes é sempre um assunto em pauta quando se trata de safra verão ou segunda safra. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022, esse é um fator que provoca grandes preocupações com questões como a disponibilidade de produtos, preço no mercado, relação de troca, entre outras ações. O Brasil é hoje um dos grandes importadores de fertilizantes, dependente de 85% do que é necessário para se produzir no campo. Quando observamos as condições climáticas e a ação das queimadas, que assolaram durante extenso período de estiagem, existe a necessidade de entender melhor como está a disponibilidade de insumos e a variação de preço frente ao mercado internacional, já que temos produtores trabalhando com rentabilidade mais apertada com preços de commodities mais baixos.
A Prosa Rural deste mês traz entrevista com a engenheira agrônoma, especialista em fertilizantes e consultora da Safras & Mercado, Maísa Romanello. Com vasta experiência em acompanhamento de indicadores, preços e tendências, ela traz uma perspectiva única e valiosa para o segmento de fertilizantes. Confira!
O mercado de fertilizantes é sempre um assunto em pauta quando se trata de safra verão ou segunda safra. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022, esse é um fator que provoca grandes preocupações com questões como a disponibilidade de produtos, preço no mercado, relação de troca, entre outras ações. O Brasil é hoje um dos grandes importadores de fertilizantes, dependente de 85% do que é necessário para se produzir no campo. Quando observamos as condições climáticas e a ação das queimadas, que assolaram durante extenso período de estiagem, existe a necessidade de entender melhor como está a disponibilidade de insumos e a variação de preço frente ao mercado internacional, já que temos produtores trabalhando com rentabilidade mais apertada com preços de commodities mais baixos.
A Prosa Rural deste mês entrevistou a engenheira agrônoma, especialista em fertilizantes e consultora da Safras & Mercado, Maísa Romanello. Com experiência em acompanhamento de indicadores, preços e tendências, ela trauxe uma perspectiva para o segmento de fertilizantes:
Que avaliação faz do mercado de fertilizantes para o produtor rural? Há uma situação favorável para a compra deste insumo?
É necessário avaliar as particularidades de cada mercado, analisando separadamente os nitrogenados (ureia, nitrato de amônio, sulfato de amônio), fosfatados (MAP, super simples, super triplo) e potássicos (cloreto de potássio). No caso dos nitrogenados, temos no momento preços mais baixos do que em relação há um ano. O mesmo acontece para o cloreto de potássio, que está com preços bastante favoráveis para a aquisição, nos menores patamares em anos. Já os fosfatados estão com preços elevados devido às questões do mercado internacional, principalmente devido à menor oferta da China. Mas, de maneira geral, a situação é favorável para que o produtor rural invista em fertilizantes para obter boa produtividade, tendo-se preços menores das formulações em relação aos anos de 2023 e 2022. Vale lembrar que em 2022 os preços dos fertilizantes atingiram recordes históricos devido às consequências do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou grandes preocupações quanto ao abastecimento, já que a Rússia é o nosso principal fornecedor, e outros fatores, como aumento nos preços das matérias-primas e do frete marítimo. Esses problemas foram superados e 2023 foi o ano de retorno à normalidade, de forma que 2024 tem patamares dentro da média, com exceção dos fosfatados que têm preços elevados.
Espera-se um mercado com preços menores do que no ano passado, porém uma safra com custos maiores? Este fator tem afastado os produtores do processo de antecipação de compras?
A preocupação para a safra 2024/2025 tem sido a rentabilidade mais apertada para algumas commodities, principalmente soja, devido à queda no preço do grão, o que prejudicou o poder de compra de insumos, adiando a tomada de decisão. Além disso, no caso dos fosfatados, aguardava-se preços mais favoráveis, o que não aconteceu. No momento, estamos com baixos estoques de MAP e há dificuldades de encontrar volumes disponíveis no spot. .
Como está a compra dos fertilizantes neste período de início da próxima safra? E para a safrinha?
Para a safra 2024/2025, a maioria dos volumes já foi adquirida, sendo que o momento é de foco na logística para a entrega. Neste ano, as compras de fertilizantes foram adiadas, com o principal momento da demanda acontecendo nos meses de julho e agosto e alguns negócios pontuais deixados para o último instante. Os agricultores adiaram as decisões de compra justamente porque aguardavam melhores cotações para suas commodities e queda nos preços dos fertilizantes. Entretanto, esta não foi a decisão mais assertiva, uma vez que o represamento de demanda faz com que os preços se elevem, além dos riscos logísticos e alta no frete rodoviário típico do terceiro trimestre, devido à grande demanda por escoamento da segunda safra e para a entrega dos insumos da safra de verão. Pensando na segunda safra, o adiamento das decisões de compra também está ocorrendo, com atraso nas negociações comparado a anos anteriores. O fator climático é outra preocupação, uma vez que a seca prolongada traz riscos para a janela de plantio do milho.
Tratando-se dos macronutrientes, nitrogênio, fósforo e potássio, a relação de troca é favorável ao produtor de soja e de milho?
No momento, as relações de troca para a soja estão prejudicadas para a aquisição de fósforo, de forma que para o MAP tem-se uma relação de troca pior do que comparado ao mesmo período do ano passado. Já no caso do potássio, os preços mais baixos do KCl neste ano estão favorecendo o poder de compra do insumo. Para o milho, a melhora que ocorreu nas cotações no mês de setembro favoreceu as relações de troca, tendo-se boas oportunidades para a aquisição de ureia e principalmente de KCl. Já para o MAP, o preço alto do insumo ainda prejudica a relação de troca, com índice maior do que em relação há um ano, e acima da média. Para as próximas semanas, a questão climática e o andamento do plantio da safra 2024/2025 serão fundamentais para a precificação das commodities agrícolas e consequentemente para as relações de troca
Sabemos que o Brasil é um grande importador de fertilizantes, dependendo do fornecimento de outros países. Sendo assim, temos segurança no fornecimento de fertilizantes para a safra 2024/2025?
Essa questão é muito importante de ser debatida. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, com uma agricultura que avança cada vez mais, batendo recordes de produtividade e sendo o pilar da economia brasileira. Para tanto, os fertilizantes são essenciais, de forma que nossa dependência por importações nos torna vulneráveis. Felizmente, o Brasil possui boa relação comercial com outros países, e nossa posição como exportador de alimentos favorece essa troca. O momento de maior preocupação que enfrentamos mais recentemente foi no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em que as sanções contra a Rússia colocaram em risco a exportação de fertilizantes pelo país, que fornece mais de 20% do que importamos. Entretanto, a ONU [Organização das Nações Unidas] teve um papel importante de impedir que as sanções afetassem os setores de alimentos e insumos agrícolas, e o Brasil buscou outros fornecedores para suprir as dificuldades em negociar com o país em guerra. Dessa forma, não faltou fertilizantes, apesar dos preços elevados, e a discussão sobre o impacto desta nossa dependência veio à tona. Neste ano, a maior dificuldade tem sido em relação aos fosfatados, principalmente o MAP, devido às restrições das exportações chinesas, que tem priorizado seu abastecimento interno, reduzindo os volumes destinados à exportação. Isto tem mantido os preços do MAP em patamares altos e retraído as importações pelo Brasil, sendo que de janeiro a agosto temos um volume de MAP de 2,9 milhões de toneladas, 13,7% menor em relação ao mesmo período no ano passado. Dessa forma, outras fontes de fosfatados, como o super triplo e o super simples estão sendo requeridas, o que acaba elevando seus preços também. Já para outros fertilizantes, o abastecimento está confortável, e ao contrário do MAP, o KCl está batendo recorde de importação, com volume 12,9% superior ao de 2023. No total, temos 25,7 milhões de toneladas de fertilizantes importadas de janeiro a agosto, volume 8,1% maior em relação ao ano anterior, assegurando a oferta para a safra 2024/2025.
Somos grandes importadores de fertilizantes, com 85% do que é necessário para produzir. Existe uma movimentação, com o Plano Nacional de Fertilizantes tentando promover esses mercados, mas alguns fatores ainda dificultam esse avanço na produção desses fertilizantes nacionais?
Sim, a produção nacional de fertilizantes encontra grandes dificuldades, o que tem elevado a nossa dependência por importações nos últimos anos. A Petrobras paralisou as unidades de produção de fertilizantes nitrogenados e saiu do setor. Neste ano, tem-se um esforço do governo para retomar a produção, mas a maior dificuldade do Brasil é em ser competitivo, enquanto países como Rússia, China, Irã e Nigéria possuem custos de produção mais baixos, principalmente em relação à obtenção de gás natural, principal matéria-prima para a produção de fertilizantes nitrogenados. Outro gargalo se dá pela questão geográfica. As minas de fósforo são de baixa concentração do nutriente. Para o cloreto de potássio, a situação é ainda mais complicada, sendo que precisamos importar quase que a totalidade do que consumimos. O Brasil não possui minas suficientes para serem exploradas e uma importante reserva fica localizada no estado do Amazonas, em áreas com questões ambientais e socioeconômicas envolvidas, dificultando a liberação para os projetos de produção existentes. Além disso, podemos citar os altos custos para instalação, mão de obra, logística, obtenção de matérias-primas, questão tributária, legislação e burocracia e a falta de incentivos para o setor. No momento, o Plano Nacional de Fertilizantes caminha a passos lentos, tentando reativar as unidades que foram hibernadas e trazendo novos investimentos em infraestrutura, além do fortalecimento das estatais do setor e incentivos para a produção de biofertilizantes, fertilizantes orgânicos e especiais. Entretanto, temos um longo caminho a percorrer, de forma que continuaremos dependendo fortemente das importações nos próximos anos.
O Brasil hoje é o quarto maior consumidor de fertilizante no mundo. Como está a produção de fertilizantes a partir de resíduos orgânicos?
O setor de fertilizantes orgânicos tem crescido significativamente nos últimos anos e se mostrado uma alternativa para reduzir a necessidade de adubação mineral, além de toda a preocupação ambiental que já é uma realidade e tendência para os próximos anos na agricultura mundial e brasileira. Segundo dados da Abisolo de 2023, as vendas de fertilizantes orgânicos cresceram 25,5% em 2022 comparado a 2021, totalizando R$ 1,77 bilhão. A tendência é de que o setor continue em expansão, com grandes empresas do agro investindo na produção e utilização do insumo.
Prazo de entrega hoje é uma preocupação?
Todo ano a questão logística traz certa apreensão, com a possibilidade de atrasos. Neste ano, não devemos ter grandes problemas, uma vez que estamos com um volume significativo de fertilizantes já internalizado. A maior preocupação tem sido com o MAP, já que estamos com pouco estoque e preços altos, de forma que quem deixou para adquirir de última hora pode ter dificuldades para encontrar volumes prontamente disponíveis. Entretanto, com o atraso das chuvas, a logística encontra um prazo maior, de forma que as entregas devem ocorrer sem grandes gargalos.
Sabemos que o dólar pode interferir na formação dos preços dos fertilizantes. Neste ponto, quais são as expectativas para a influência da moeda americana e seus impactos nos preços dos fertilizantes?
O dólar impacta tanto de forma direta, na conversão dos preços em reais, como de forma indireta, na formação dos preços das commodities agrícolas e consequentemente na relação de troca e demanda por fertilizantes. No momento atual, para a formação dos preços dos fertilizantes, os preços em dólar têm impactado mais do que as oscilações da moeda. Por exemplo, a queda no preço do KCl no mercado internacional tem compensado os aumentos do dólar. Já o alto preço do MAP em dólar prejudica ainda mais a aquisição em real em momento de desvalorização da nossa moeda. O mais importante para a aquisição de fertilizantes é manter a negociação da commodity e a compra dos insumos na mesma moeda e se atentar às relações de troca, já que apesar do aumento do dólar elevar os preços dos fertilizantes em reais, também pode significar um aumento nos preços das commodities agrícolas e acabar compensando no poder de compra, e vice-versa.
Qual recomendação você deixa para nosso produtor na safra 2024/2025, principalmente no que tange aos fertilizantes?
A principal recomendação é que o produtor olhe para o seu poder de compra, ou seja, faça a relação de troca entre o preço da sua commodity com o preço do insumo, para garantir a melhor oportunidade possível. No caso do café, por exemplo, os bons preços têm trazido excelentes oportunidades para adquirir insumos e investir na produtividade da lavoura. O mercado de fertilizantes é complexo e volátil, com diversos fatores influenciando na formação dos preços, como o dólar, oferta e demanda internacional, preços das commodities agrícolas, clima… de forma que o acompanhamento regular é fundamental para a tomada de decisão assertiva no momento de compra deste insumo que representa grande parte dos custos de produção.
Fonte: Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag
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