Um pedaço do Semiárido potiguar virou laboratório para pesquisas espaciais nos dias 17 e 18 de novembro. No município de Caiçara do Rio do Vento, o Habitat Marte — base de simulação ligada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte — recebeu cinco pesquisadores durante uma missão dedicada a testar tecnologias que podem ser usadas em futuras operações fora da Terra. O trabalho integra a Rede Space Farming Brazil, iniciativa coordenada pela Embrapa em parceria com a Agência Espacial Brasileira.
A equipe reuniu especialistas em agricultura, gestão e tecnologias digitais. Ítalo Guedes e Juscimar da Silva, da Embrapa Hortaliças, instalaram um sistema experimental de cultivo de tomate em ambiente protegido, voltado tanto para fins científicos quanto para demonstrar práticas de produção sustentável que possam ser aplicadas por agricultores do Semiárido. A dupla visitou uma horta comunitária da região e identificou possibilidades de uso de sistemas de baixo consumo hídrico para ampliar a produtividade local.
Na área tecnológica, Renato Torres, da Embrapa Agricultura Digital, avaliou sensores e dispositivos de internet das coisas para automação e monitoramento remoto de cultivos. A proposta é desenvolver soluções capazes de operar em condições de escassez — comuns em missões espaciais e cada vez mais frequentes em cenários climáticos extremos na Terra.
A pesquisadora Clarissa Castro contribuiu com a parte de gestão, estruturando um modelo para organizar e rastrear experimentos realizados em ambientes análogos ao espaço. O objetivo é padronizar procedimentos e garantir comparabilidade entre missões. A atividade incluiu a checagem de protocolos recém-adotados pela Rede Space Farming Brazil para assegurar a qualidade dos estudos.
Criado em 2017, o Habitat Marte funciona como campo de testes em região de clima rigoroso, com temperaturas que facilmente ultrapassam os 40°C. Essas condições ajudam a simular restrições operacionais típicas de missões espaciais, como limitação de recursos e necessidade de adaptação psicológica e física das equipes.
Além das atividades científicas, a missão incorporou um elemento incomum: uma aula de hatha yoga. Instrutora voluntária há mais de dez anos, Clarissa Castro conduziu a prática para os colegas como parte das discussões sobre saúde e bem-estar em contextos extremos. A pesquisadora lembra que técnicas integrativas vêm sendo estudadas para apoiar astronautas antes, durante e depois das viagens espaciais.
A coordenadora da Rede Space Farming Brazil, Alessandra Favero, resume o propósito do trabalho: desenvolver tecnologias úteis para operações espaciais e, ao mesmo tempo, gerar aplicações práticas para regiões brasileiras vulneráveis à escassez hídrica. Segundo ela, a missão reforça o potencial de transferência de conhecimento do programa para produtores, comunidades e centros de pesquisa.
Com informações da Embrapa
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