O tabuleiro das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos foi movimentado nesta terça-feira (2), em uma ligação estratégica de 40 minutos que uniu os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. A conversa, classificada como “muito produtiva” pelo Palácio do Planalto, teve um objetivo central claro: Lula exigiu a aceleração máxima nas negociações para a completa remoção da sobretaxa de 40% que ainda onera uma fatia significativa das exportações brasileiras.
A pressão diplomática surge após um alívio parcial em 20 de novembro, quando a Casa Branca decidiu retirar 238 produtos do chamado “tarifaço”, beneficiando majoritariamente o agronegócio com a isenção de café, carnes, frutas e especiarias. Lula reconheceu a positividade do movimento, mas sublinhou a urgência: cerca de 22% das vendas brasileiras aos EUA continuam reféns dessas alíquotas adicionais. No início da imposição, essa proporção era de 36%, evidenciando a lentidão e o caráter residual das barreiras que seguem impactando segmentos cruciais.
A maior preocupação brasileira agora recai sobre os produtos industriais, sobretudo bens de maior valor agregado, que encontram dificuldades em redirecionar suas cadeias de suprimentos e exportação para outros mercados globais. A sobretaxa de 40% — imposta em agosto em retaliação a decisões brasileiras que, segundo a administração Trump, prejudicariam as big techs estadunidenses e, surpreendentemente, em resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado — permanece como um entrave político-econômico.
O Eixo Delaware e o Combate ao Crime Transnacional
A pauta entre os líderes transbordou o comércio, mergulhando na cooperação para o combate ao crime organizado internacional. Lula destacou a “urgência” em reforçar essa colaboração e mencionou as recentes operações do governo federal para asfixiar financeiramente as organizações criminosas, identificando ramificações que operam a partir do exterior.
É nesse ponto que a conversa ganha contornos de denúncia. Em consonância com o que já havia sido alertado publicamente pelo ministro Fernando Haddad, Lula reforçou a necessidade de um diálogo direto para coibir a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro. O cerne da questão reside no estado de Delaware, nos Estados Unidos, que tem sido usado por criminosos como um conveniente paraíso fiscal para o envio ilegal de capital brasileiro e sua posterior “lavagem”. As cifras são bilionárias: a última operação relevante detectada envolveu R$ 1,2 bilhão enviado para fundos nesse estado norte-americano.
O Palácio do Planalto assegurou, em comunicado, que o Presidente Trump demonstrou “total disposição” em trabalhar lado a lado com o Brasil, garantindo apoio às iniciativas conjuntas contra essas organizações criminosas.
O telefonema, resultado direto dos encontros anteriores entre os líderes, incluindo o diálogo na Malásia em outubro, sinaliza uma diplomacia pragmática e célere. No entanto, enquanto a Casa Branca acena com a cooperação e o alívio tarifário para o agronegócio, o governo Lula insiste que o “tarifaço” imposto por Trump, parte de sua política de reverter a perda de competitividade global dos EUA frente à China, deve ser completamente desmantelado.
Os presidentes concordaram em voltar a conversar em breve para avaliar o andamento tanto do desmonte tarifário, que inclui também discussões sobre terras raras e o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata), quanto da estratégia binacional para encurralar a rota de lavagem de dinheiro que passa por Delaware. A velocidade das tratativas será o termômetro da futura relação entre os gigantes continentais.
Com informações da Ag. Brasil
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