Os exportadores brasileiros de café seguem enfrentando intensos gargalos logísticos neste ano devido à falta de infraestrutura adequada para cargas conteinerizadas nos portos do Brasil. Em 2024, os múltiplos atrasos e alterações constantes de escala de navios para exportação, além de frequentes rolagens de cargas, fizeram com que o país acumulasse 1,717 milhão de sacas – 5.203 contêineres – do produto não embarcadas até outubro. Os dados são de levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a exportadores associados.
Com um preço médio FOB de exportação de US$ 285,21 por saca (café verde) e a média do dólar em R$ 5,6235 em outubro, o não embarque dessas sacas de café implica que o país deixou de receber, nos 10 primeiros meses de 2024, US$ 489,72 milhões, ou R$ 2,754 bilhões, como receita cambial.
Em função desses entraves logísticos nos portos brasileiros, os exportadores de café acumulam um “prejuízo portuário” de R$ 6,986 milhões no acumulado deste ano, que envolvem gastos extras com armazenagens adicionais, detentions, pré-stacking e antecipação de gates.
“Esses gargalos e prejuízos demonstram que nossos portos não evoluíram de maneira satisfatória e proporcional ao crescimento do agronegócio nacional, principalmente para atender produtos que são exportados por contêineres”, analisa Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.
De acordo com ele, a entidade vem empenhando esforços na manutenção do diálogo com os diversos elos do comércio exterior, envolvendo autoridades públicas e segmento privado, na expectativa de encontrar soluções que mitiguem e possibilitem, “o quanto antes”, a otimização da estrutura dos embarcadouros.
Heron anota que a infraestrutura portuária brasileira vem apresentando esgotamentos e é urgente que sejam adotadas medidas para melhorar as condições, com foco em eficiência e competitividade, aos exportadores.
“É premente a necessidade da ampliação da capacidade de pátio e berço, bem como o aprofundamento de calado para que seja possível o recebimento de maiores embarcações”, explica.
Além disso, o diretor técnico do Cecafé também aponta a necessidade de se investir em rodovias, ferrovias e hidrovias para estimular a diversificação de modais.
“Isso possibilitará um giro mais dinâmico da carga nos portos, de maneira que todo esse conjunto de iniciativas permita o melhor escoamento das safras brasileiras, principalmente as conteinerizadas”, explica.
ATRASOS EM OUTUBRO
Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 69% dos navios, ou 218 de um total de 317 porta-contêineres, tiveram atrasos ou alteração de escalas para exportar café, nos principais portos do Brasil, em outubro deste ano.
O prazo mais longo de espera no mês passado foi de 58 dias, registrado no maior porto do Hemisfério Sul, em Santos (SP). Além disso, 23 navios sequer tiveram abertura de gate, o que contribuiu para o não embarque das 1,7 milhão de sacas (5.203 contêineres) e o milionário prejuízo aos exportadores.
Heron recorda que, apesar desse cenário crítico na logística portuária nacional, o Brasil registra recordes sucessivos nas exportações do produto neste ano graças ao empenho das equipes de logística dos exportadores na busca por alternativas de embarque e aos esforços que os terminais portuários têm feito para atender às demandas do comércio exportador de café.
“Em outubro, o Brasil exportou o maior volume mensal de café na história, com 4,926 milhões de sacas remetidas ao exterior. Esse recorde, contudo, não se dá por um cenário favorável nos portos do país, mas, sim, pelo hercúleo trabalho das equipes de logística de nossos associados, que vêm buscando outros caminhos para conseguir embarcar, como as exportações de cinco navios via break bulk feitas até o mês passado, somado aos esforços dos terminais portuários em nos atender”, destaca.
De acordo com os dados do Boletim DTZ, em outubro, o Porto de Santos, ainda o principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, com 67,4% de participação, registrou um índice de 74% de atraso ou alteração de escalas de navios, o que envolveu 125 do total de 169 embarcações.
Ainda no mês passado, apenas 10% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no embarcadouro santista. Outros 46% possuíram entre três e quatro dias e 44% tiveram menos de dois dias.
Já o complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil com 28,1% de participação nos embarques, teve índice de atrasos de 70% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 35 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 46 dos 66 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.
Ainda em outubro deste ano, 20% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 27% registraram entre três e quatro dias; e 53% possuíram menos de dois dias.
Para tentar mitigar o cenário de gargalos logísticos que vem impactando o desempenho do comércio exportador do Brasil, o diretor técnico do Cecafé reforça que o Conselho e outras entidades do agro estão se mobilizando, de forma conjunta, para sensibilizar e cobrar as autoridades públicas.
“O objetivo é apresentar, com dados concretos, os impactos da falta de infraestrutura nas exportações agropecuárias do país, de forma que seja feita a ampliação dos investimentos e se dê mais celeridade no planejamento e na execução dos projetos de melhorias nos portos brasileiros”, conclui Heron.
Fonte: Cecafé
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