A competitividade do agro brasileiro frente aos seus principais concorrentes globais e os custos de produção de grãos e as perspectivas para a safra 2024/25 foram discutidos, na terça (5), durante o evento “Benchmark Agro”, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O encontro foi a etapa final do Circuito de Resultados do Projeto Campo Futuro e reuniu, na sede da Confederação, especialistas, pesquisadores, presidentes de federações estaduais de agricultura, diretores, produtores e representantes de entidades do setor.
Competitividade do agro – Além da abertura, o evento contou com quatro painéis de debates com especialistas e pesquisadores na parte da manhã e da tarde.
No primeiro painel, os palestrantes fizeram uma análise da produção agropecuária brasileira em relação aos principais países produtores de alimentos. O debate teve a moderação da editora-chefe do Notícias Agrícolas, Carla Mendes.
Em sua apresentação, o pesquisador do Cepea Mauro Osaki falou sobre os custos de produção de soja e milho no Brasil e comparou com os da Argentina, Estados Unidos e Ucrânia nas últimas cinco safras. Segundo Mauro, o Brasil possui o maior custo por tonelada produzida de soja e milho, em razão do alto preço dos insumos.
“O custo dos principais insumos, principalmente fertilizantes e sementes, encareceram no país e isso tem refletido no Custo Operacional das atividades”, disse. O pesquisador também destacou a importância do Brasil como fornecedor mundial de alimentos. “Nós somos protagonistas nesse cenário e não podemos perder esse espaço porque outros podem ocupar. Então, temos que melhorar a nossa capacidade produtiva”.
Em seguida, o pesquisador do Cepea Thiago Bernardino apresentou os dados de mercado da carne bovina e de leite no país e no mundo. Segundo ele, a lucratividade da cria caiu, com poucas exceções, e da terminação recuou praticamente em todos os países.
Em relação ao leite, Bernardino afirmou que 80% dos países vão precisar aumentar a produção, pois ainda não são autossuficientes. “Há muitos desafios a serem superados. No Brasil, a balança comercial é deficitária e temos um dos maiores custos de produção. No mundo, a preocupação é com a garantia do estoque de leite cru e com a demanda de 10,5 milhões de toneladas de leite até 2030”.
Ao final do primeiro painel, a assessora técnica da CNA Amanda Roza abordou questões ambientais do agro e mercado de carbono. Ela pontuou os principais impactos das mudanças climáticas nos últimos anos.
“Nos últimos dez anos, tivemos longos períodos de estiagem, que levaram a várias alterações econômicas e uma delas é a desaceleração nos ganhos de produtividade”.
Amanda Roza disse que o setor agropecuário brasileiro se destaca na produção sustentável e no cumprimento da legislação ambiental. A assessora citou o Código Florestal; o Plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono) e o mercado de carbono.
Custos de produção de grãos – O segundo painel do dia discutiu os custos e a eficiência econômica na produção de grãos e as perspectivas para a safra 2024/25 e contou com a moderação do presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, André Dobashi. O pesquisador do Cepea Renato Garcia apresentou os dados do projeto Campo Futuro e uma análise de custos nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Mapipa (Maranhão, Piauí e Pará).
Garcia explicou que na última safra de soja foi observada uma mudança de comportamento do produtor rural em relação à comercialização e os preços da soja. “Os preços na colheita ou pós-colheita ficaram melhores do que o valor negociado antecipado, então o produtor pôde escolher travar os custos, o que mostra que ele tem feito o dever de casa”.
No caso do milho, a receita bruta nas duas últimas safras foi suficiente para pagar o custo total. Já em relação ao milho safrinha, em muitos casos a receita não foi suficiente para pagar o desembolso dos produtores.
“É um alerta importante na questão da rentabilidade nas duas últimas safras. O produtor modal teve dificuldade para fechar as contas”.
De forma geral, o pesquisador informou que o produtor do sistema soja e milho na segunda safra teve dificuldades em pagar o Custo Total em 2023/24; o recuo no preço dos insumos contribuiu, mas outros itens de custos frearam a quedo no Custo Operacional Efetivo (COE); o feijão se mostrou uma boa alternativa e o arroz foi uma das poucas culturas que pagou o Custo Total na safra 2023/24.
Em sua exposição, o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, falou sobre o cenário de custos da soja e do milho em Mato Grosso. Conforme os dados apresentados, houve aumento de 4,22% da receita bruta na safra atual, porém ainda insuficiente para cobrir todos os custos. “O aumento no valor da saca de soja tornou o cenário favorável ao produtor”.
Segundo Gauer, o preço do milho disponível no estado começou a reagir nas últimas semanas e houve redução de 20,33% nos custos com fertilizantes. Para ele, os produtores que fazem o controle e o gerenciamento do negócio acabam tendo melhores resultados e permanecendo na atividade a longo prazo.
Por fim, o analista da Safras & Mercado Luiz Fernando Gutierrez revelou o cenário e os desafios do mercado de grãos no país. Em relação à soja, a expectativa é de uma produção de 171,8 milhões de toneladas, a depender do clima. A respeito da oferta e demanda em 2024/25, mesmo com a possível exportação recorde de 107 milhões, deve haver aumento de 19,8% dos estoques em 2025.
Quanto ao milho, a produção deve saltar de 125,5 milhões de toneladas na safra 2024 para 133,5 milhões em 2025.
“Depois de uma safra menor, a oferta brasileira deve voltar a crescer em 2025 e os estoques devem crescer 46%, o que deve gerar pouco espaço para valorização de preços, mas com algum suporte até entrada da safrinha”, explicou.
Fonte: CNA
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