O Brasil deu mais um passo em direção à sustentabilidade no setor agrícola com o lançamento do projeto “Cafeicultura Brasileira Sustentável – Sistema de Compensação de Crédito de Carbono na Apólice de Seguro Rural”. O projeto, fruto de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) firmado entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Conselho Nacional do Café (CNC) e a ONG ProNatura Internacional, tem como foco promover práticas agrícolas sustentáveis na produção de café e integrar o sistema de compensação de crédito de carbono ao seguro rural, beneficiando os produtores que adotarem essas práticas.
Objetivos do projeto: benefícios sociais, econômicos e ambientais
O principal objetivo do projeto é incentivar a adoção de práticas agrícolas que reduzam a emissão de carbono, como forma de preservar os recursos naturais e melhorar a qualidade do café produzido no Brasil. A ideia é que os produtores possam converter os créditos de carbono gerados por suas práticas sustentáveis em bonificações nas apólices de seguro rural. Isso não apenas garante a segurança financeira dos produtores, mas também os incentiva a adotar técnicas de cultivo que minimizem o impacto ambiental.
Segundo Marcelo de Andrade, presidente executivo da ProNatura Internacional, a iniciativa visa promover uma “cafeicultura que seja não apenas economicamente viável, mas também ambientalmente responsável e socialmente justa.” Ele destaca que o projeto pode servir de modelo para outros setores da agricultura brasileira, ampliando o impacto da sustentabilidade no país.
Cooperativa Cocatrel como piloto
O projeto foi formalmente lançado em Minas Gerais, com a escolha da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) como a primeira organização a implementá-lo. A Cocatrel, que possui aproximadamente 8,5 mil cooperados, foi escolhida por seu perfil diversificado de produtores, onde 80% operam em pequenas propriedades com áreas de 5 a 12 hectares.
Durante a cerimônia de lançamento, o secretário de Política Agrícola do Mapa, Guilherme Campos, destacou que o setor de café brasileiro é fundamental para a economia do país e que as práticas sustentáveis são um “caminho inevitável” para garantir o futuro do setor.
“Com esse projeto, não estamos apenas ajudando os produtores a reduzirem seus custos com o seguro rural, mas também estamos contribuindo para que o Brasil continue sendo líder global em cafeicultura de qualidade”, afirmou Campos.
Jacques Fagundes Miari, presidente da Cocatrel, reforçou a importância do projeto para os pequenos cafeicultores. Ele acredita que o uso de práticas como adubação verde e a ampliação do uso de compostos orgânicos não apenas ajuda a preservar o solo e a biodiversidade, mas também agrega valor ao produto final.
“Estamos integrando a sustentabilidade ao nosso modo de produção e, com isso, podemos obter reconhecimento no mercado internacional”, disse Miari.
Práticas sustentáveis em destaque
Entre as práticas agrícolas que serão incentivadas pelo projeto estão a adubação verde, que utiliza plantas de cobertura para melhorar a fertilidade do solo e evitar erosão, e o aumento do uso de compostos orgânicos, que contribuem para uma maior retenção de água e biodiversidade. Essas práticas visam reduzir a emissão de gases de efeito estufa, tornando a produção de café mais sustentável e alinhada às demandas de mercados consumidores, como a União Europeia, que tem se tornado cada vez mais exigente quanto à responsabilidade ambiental dos produtos que importa.
Para que os produtores possam participar, eles devem aderir às práticas sustentáveis estabelecidas pelas instituições parceiras do projeto. Em contrapartida, os créditos de carbono gerados por essas ações serão convertidos em um valor que poderá ser utilizado para abater o custo da apólice do seguro rural. Isso representa um incentivo direto para que os cafeicultores invistam em práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que garante sua proteção financeira.
Importância global da cafeicultura brasileira
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, sendo responsável por cerca de 38% da produção global. Devido à importância desse setor para a economia do país, iniciativas como o “Cafeicultura Brasileira Sustentável” são vistas como cruciais para manter a competitividade do café brasileiro no cenário internacional. A União Europeia, por exemplo, é um dos principais mercados consumidores do café brasileiro, e também um dos mais exigentes quando se trata de padrões ambientais e de sustentabilidade.
Além disso, o projeto visa garantir que pequenos e médios produtores, que compõem uma parte significativa do setor cafeeiro, tenham acesso ao seguro rural, essencial para proteger suas operações contra riscos climáticos e de mercado.
Segundo Silas Brasileiro, presidente do CNC, “esse projeto oferece uma combinação de inovação e responsabilidade social, mostrando que é possível produzir de forma sustentável e ainda obter vantagens econômicas.”
Expectativas e próximos passos
A expectativa para a primeira etapa do projeto é abranger uma área de 60 mil hectares, envolvendo produtores da Cocatrel em 125 municípios. O projeto será monitorado e os resultados avaliados com base em métricas específicas para garantir que as práticas sustentáveis sejam implementadas corretamente e que os créditos de carbono sejam devidamente contabilizados.
João Nicanildo Bastos dos Santos, coordenador de Monitoramento e Inovação no Departamento de Gestão de Risco do Mapa, explicou que a metodologia de aferição dos créditos de carbono está sendo desenvolvida em parceria com instituições internacionais.
“Nosso objetivo é criar um sistema robusto e confiável que possa ser expandido para outras regiões e outros setores agrícolas no futuro”, afirmou Santos.
A longo prazo, a iniciativa visa transformar a maneira como o café é produzido no Brasil, colocando a sustentabilidade no centro da cadeia produtiva. Com a implementação desse projeto, o Brasil espera não apenas fortalecer seu papel como líder global em produção de café, mas também mostrar ao mundo que é possível conciliar crescimento econômico com a preservação ambiental.
Em resumo, o projeto “Cafeicultura Brasileira Sustentável” promete ser um marco na cafeicultura brasileira, oferecendo aos produtores um novo caminho para garantir sua viabilidade financeira e, ao mesmo tempo, contribuir para a redução das emissões de carbono no setor agrícola. Se bem-sucedido, poderá servir de exemplo para outras cadeias produtivas e reforçar o compromisso do Brasil com um futuro agrícola mais verde e sustentável.
Por Cristiane Ferreira, com informações de Mapa, CNC e ProNatura
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