O Brasil passou por uma transformação sem precedentes na cobertura e uso da terra nos últimos 40 anos. Entre 1985 e 2024, o país perdeu em média 2,9 milhões de hectares de áreas naturais por ano — um total de 111,7 milhões de hectares, o equivalente a 13% do território nacional, área superior à da Bolívia. No mesmo período, a agropecuária se consolidou como atividade predominante em 59% dos municípios, contra 47% em 1985.
Os dados fazem parte da Coleção 10 do MapBiomas, lançada nesta terça-feira (13) em Brasília. A nova edição amplia para 30 as classes mapeadas e, pela primeira vez, traz o registro das usinas fotovoltaicas, cuja expansão se concentrou na Caatinga (62% da área ocupada) entre 2015 e 2024.
Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, a velocidade da conversão de áreas naturais para uso humano cresceu vertiginosamente. “Quarenta por cento de toda a área hoje ocupada por agropecuária, mineração, cidades e infraestrutura foi convertida apenas nas últimas quatro décadas”, afirmou.
O auge da transformação ocorreu entre 1995 e 2004, período marcado pela maior supressão de florestas da série histórica. “Depois de um intervalo de queda no desmatamento entre 2005 e 2014, voltamos a registrar avanço agrícola sobre áreas nativas, agravado por degradação e impactos climáticos”, explicou Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do IPAM.
O levantamento mostra que a Amazônia perdeu 52,1 milhões de hectares de áreas naturais no período e que novos polos de desmatamento surgiram na última década, especialmente na região conhecida como Amacro, que abrange partes do Amazonas, Acre e Rondônia. O Cerrado, por sua vez, perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa, enquanto o Pampa sofreu a maior perda proporcional: 30% de sua cobertura original.
A seca extrema também preocupa. O Pantanal, que em 1985 tinha 24% de sua área coberta por água, registrou apenas 3% em 2024, resultado da diminuição das cheias e do aumento dos períodos secos. “O Pantanal de hoje é muito mais seco do que o de quatro décadas atrás, e isso afeta profundamente a biodiversidade e a economia local”, alertou Laerte Ferreira, coordenador do mapeamento de pastagens.
O relatório também evidencia o crescimento de energias renováveis no território nacional. Minas Gerais concentra 37% de toda a área de usinas fotovoltaicas do Brasil, seguido por Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. Quase metade das áreas convertidas para esse fim era formada por savanas e 36,6% eram pastagens.
Apesar da perda de áreas naturais, a vegetação secundária — resultante da regeneração — representa hoje 6,1% da cobertura vegetal do país, cerca de 34,5 milhões de hectares. “Há avanços na recuperação, mas ainda não conseguimos frear totalmente o desmatamento, especialmente em biomas altamente antropizados como a Mata Atlântica e o Pampa”, avaliou Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
Todos os dados e mapas da Coleção 10 estão disponíveis gratuitamente na plataforma MapBiomas, que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar e propor soluções para o uso sustentável da terra no Brasil.
Com informações do MapBiomas
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